Felizmente, o mercado publicitário dá fortes sinais de reação. Daniel Queiroz, presidente da Fenapro (Federação Nacional das Agências de Publicidade), acredita em um sentimento de grande recuperação até o fim deste ano. Ele fala em sentimento, mas está pautado nos dados da nova edição da pesquisa VanPro, que mede a quantas anda a temperatura dos negócios e das empresas do setor, realizada pelo Sistema Sinapro/Fenapro.
Segundo Queiroz, os dados foram apurados junto a 293 agências, de 20 estados mais o Distrito Federal, e o índice de agências que têm melhores perspectivas de mercado cresceu 28%, representando 64% do total das empresas entrevistadas em setembro, ao mesmo tempo que 62% conseguiram manter ou elevar seu faturamento no segundo trimestre deste ano, na comparação com o mesmo período de 2020.
A notícia é boa, claro, diante do caótico cenário, por conta da pandemia provocada pela Covid-19. A recuperação não será plena, de acordo com o presidente da Fenapro, mas o crescimento deve girar em torno de 30%. “69% das agências ouvidas têm boas perspectivas para este ano”, aponta Queiroz, acrescentando que, hoje, “a recuperação já está em 29%”. O investimento no ano passado foi mais danoso, mas a esta altura já dá para comemorar. O executivo lembra que o fim de 2020, ano em que o mercado experimentou uma queda em torno de 30%, já mostrava que a retomada não seria rápida. “No entanto, as empresas não podem viver sem comunicação”, relembra.
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Com essa movimentação, Queiroz analisa que para 2022 as perspectivas são de um ano ainda melhor. “Será muito produtivo, apesar da instabilidade”. Ele fala que o setor é sensível e quando o cenário é desfavorável ele se ressente. Mas, apesar da pandemia e de todas as consequências que ela trouxe, o consumo não parou e muitos segmentos acabaram se destacando. “O cenário é instável e imprevisível, mas os empresários não esperam. Não dá para esperar. Então, vamos em frente”.
Outro detalhe importante que ele destaca é que durante a crise da pandemia as agências deram suporte para o desenvolvimento do setor, já que, na opinião dele, é a gestão que dá sustentação ao negócio e à equipe. “Tomara que sigam nessa transformação, mesmo com essa tensão toda que vivemos”. Ele reforça ainda que durante o período houve muita parceria. “O empresariado abraçou as mudanças na operação e no desenvolvimento dos profissionais. Além disso, houve um equilíbrio contratual. 84% das agências disseram que o relacionamento foi de parceria, de entrega”.
Ele festeja ainda o avanço da vacina, que vem mostrando a sua importância. “Apesar das novas variantes, não acredito que vamos viver novas ondas por conta da vacina. Vamos encará-las com mais tranquilidade”.
Dados
Conforme dados revelados pela VanPro, entre as agências entrevistadas, 39% aumentaram o faturamento, 30% mantiveram e 18% perderam 30% ou mais. Para o futuro, as perspectivas são positivas. As que preveem estabilidade são 26% e as que consideram o cenário negativo, 5%, algumas inclusive não descartam interrupção das atividades, enquanto 5% não têm uma previsão. “A pesquisa mostrou que os maiores impactos da pandemia já foram superados e as perspectivas de futuro são muito melhores do que no mesmo período de 2020”, diz Queiroz.
Nos desafios que as agências precisam equacionar está o desequilíbrio entre demanda e remuneração. Apenas 15% das agências entrevistadas avaliam que a carteira tem um equilíbrio de 70% ou mais entre demanda e remuneração. Em contrapartida, 55% consideram que há sobrecarga de demandas sobre a equipe e apenas 7% têm algum tipo de folga operacional.
A pesquisa VanPro também analisou a gestão das agências, os sistemas utilizados por elas e o desempenho das lideranças. Os dados levantados até o mês de julho apontam que ainda é preciso avançar em termos de gestão, e obter maior dedicação ao tema da parte das lideranças e maior engajamento das equipes. Quase a metade das agências (47%) vê o nível de engajamento de suas equipes com a gestão em níveis moderados, comparativamente a 43% que consideram o engajamento alto ou muito alto.
Por outro lado, as lideranças têm dedicado apenas 18% de seu tempo às atividades de gestão, comparativamente a 38% do tempo gasto com atividades operacionais; 28%, ao relacionamento com o cliente, e 16% em atividades burocráticas.
“A pesquisa mostra que boa parte das empresas ainda pode ‘subir a régua’ do investimento em modelos de gestão que permitam às pessoas darem o seu melhor e ter um engajamento genuíno. As próprias lideranças das agências devem se engajar mais, pois hoje dedicam apenas 18% do seu tempo, em média, com a gestão”, afirma Queiroz, acrescentando: “Em contrapartida, os níveis de atividades burocráticas parecem excessivos para um mercado que exige tanta velocidade e altos níveis de carga operacional. Por isso, é preciso engajar as equipes com práticas e sistemas de gestão, principalmente quando os times têm autonomia moderada”.
Em relação às práticas de gestão, prevalecem aquelas consolidadas e tradicionais, como o planejamento estratégico (65%) e orçamentário (59%) e acompanhamento de indicadores/KPI (28%), seguidas por aquelas que tratam da gestão de recursos humanos, como feedback gerencial (48%), avaliação de desempenho (46%), programa de remuneração variável (30%) e pesquisa de clima (25%).
Iniciativas estruturadas de desenvolvimento vêm em terceiro lugar (22%), com planos de desenvolvimento individual, no mesmo patamar de programas de desenvolvimento gerencial e de liderança (22%), seguidos por programas de mentoria interna (17%). Práticas ligadas ao relacionamento com clientes vêm em quarto lugar, com pesquisas de satisfação e NPS (20%) e uso de CRM (14%). Práticas mais ousadas, como gestão ágil (18%), OKRs (14%) e avaliações 360º (13%), aparecem em penúltimo lugar no levantamento, sendo que as práticas relacionadas à inovação, como design sprint (8%), colegiados de inovação (7%) e hackathons (6%), vêm em último lugar.
Estresse
O estudo levantou ainda que os níveis de tensão e estresse nas equipes das agências são considerados moderados pela maioria das lideranças entrevistadas (48%), e são vistos como muito altos por 23% delas. Ou seja, 71% das equipes são impactadas, em maior ou menor grau, pelo problema, na visão das lideranças das agências, em comparação a apenas 29% das que consideram o nível de tensão e estresse no trabalho baixo ou muito baixo.
A questão do alto nível de tensão e estresse nas agências de propaganda foi recentemente apontada em iniciativa conjunta da Fenapro, Abap (Associação Brasileira das Agências de Propaganda) e Abradi (Associação Brasileira de Agentes Digitais), e a pesquisa buscou levantar a visão das lideranças e medir a dimensão do problema.
As equipes com maior nível de tensão atuam no grupo de empresas com receita acima de R$ 10 milhões, sendo apontado como muito alto por 47% delas; como médio, por 43%; e como baixo por 10% das agências. Apesar disso, o clima no ambiente de trabalho apontou resultados bastante positivos: 70% das lideranças das agências entrevistadas o avaliam como bom ou muito bom; 27%, como mediano; e apenas 3% como ruim ou muito ruim.
O nível de motivação também é visto como expressivo: 41% das lideranças das agências o consideram alto ou muito alto; 50,5%, como médio; e 8,5%, como baixo ou muito baixo. Esses dados se correlacionam com os níveis de estresse – entre os entrevistados que reportam estresse alto ou muito alto, apenas 21% avaliam a motivação das equipes como alta ou muito alta. Já entre as empresas que reportaram estresse baixo ou muito baixo, 64% avaliaram
a motivação das equipes como alta ou muito alta.
Já o turnover no primeiro semestre foi inferior a 5% do quadro de colaboradores em 41% das agências; em 32% delas, se situou entre 5% e 15%; e, em 27% das agências, foi superior a 15% no primeiro semestre.