Eu poderia apontar livros, lives, séries ou podcasts. A meditação ou o tempo de qualidade com minha filha. Mas nada tem me inspirado mais do que o desconforto vindo de um grupo de WhatsApp com 256 lideranças femininas do mercado do qual tenho a sorte de fazer parte.
Foi lá, com grande desconforto, que compreendi que o único feminismo possível é o feminismo negro (leia Djamila Ribeiro). Com inquietação, descobri que não basta não ser racista. É preciso ser antirracista (se aprofunde com Angela Davis). E com constrangimento percebi quão poucas vezes cedi o meu espaço de mulher branca (embora tenha menos privilégio do que um homem branco, tenho muitos).
Inspirada por tudo isso, compartilho ineditamente os caracteres desta coluna com Débora Moura e Patricia Moura, companheiras de jornada e de Artplan, torcendo para que elas inspirem e, com sorte, desconfortem vocês também.
Os últimos acontecimentos no mundo e no Brasil relacionados à luta antirracista trouxeram à tona a inspiração para falar, falar e repetir. Repetir que são 56% de negros na população brasileira, que quatro em cada dez jovens negros não concluem o ensino médio, que 75% das vítimas de homicídio são negras, que a maioria dos mortos pela Covid19 será de negros. E explicar que esses números são resultado do racismo no Brasil. Uma população que foi escravizada por mais de 300 anos, libertada como resultado de uma luta amarga e deixada de lado numa sociedade extremamente discriminatória. As oportunidades nunca foram iguais. Falar que as cotas raciais são necessárias porque aceleram a chance de acesso da população negra a uma posição melhor na sociedade, para que seja natural encontrar um médico negro, um juiz negro, um cientista negro, um diretor de agência negro.
Quem são e onde estão os pretos e pretas do mercado publicitário?
Estarão eles tendo voz para contribuir dentro da publicidade para uma sociedade mais igualitária?
Se você chegou até aqui acreditando que a equidade racial na sua empresa é tema irrelevante, por razões biológicas lhe serei pouco persuasiva, então trago fatos: o mundo está em crise, e a crise força mudanças.
No último mês, vimos que grandes marcas, plataformas e grupos de comunicação – por maiores que fossem – conseguiram entender essas mudanças e foram capazes de rever suas posturas omissas diante do racismo e das desigualdades da porta pra dentro.
Se as gigantes, com centenas de processos, conseguiram se mover de forma ágil, acredito que as pequenas e médias empresas brasileiras têm um exemplo a seguir.
Trago ainda dez atitudes corporativas que posicionam marcas e agências como aliadas na luta antirracista: ampliar a representatividade de pessoas negras nas campanhas; não reforçar estereótipos; dar mentorias e palestras para estudantes profissionais negros em início de carreira; doar para ONGs que atuem diretamente nas camadas de menor renda; abrir diálogo sobre racismo com colaboradores, fornecedores (como Beatriz Lira, que assina a ilustração deste artigo) e clientes; convidar profissionais negros para palestrar; cobrar a inserção de palestrantes negros nos palcos dos eventos; contratar consultorias para ampliar a participação racial na empresa; estabelecer e perseguir metas de diversidade e inclusão; abrir espaço para profissionais negros se tornarem líderes.
São os diferentes pontos de vista que mudam as percepções do mundo e trazem novos resultados.
O que você e a sua empresa estão fazendo hoje para serem mais parte da mudança do que da crise?