A campanha da Renault pela “democratização do tênis” me deu um certo “ruim”. Ainda não consegui digerir, completamente, a imagem do comercial, em que uma alegre e clássica pelada, disputada por meninos num campinho de várzea, é interrompida por alguém que sugere substituir aquele esporte coletivo por outro, individual.

Quero crer que a intenção de dar uma oportunidade às crianças suburbanas de praticarem um esporte, historicamente, de elite, não vai trazer a elas nenhum benefício digno de nota.

Digamos que se trata apenas de uma ação de marketing, pertinente com a tradição da marca em patrocinar torneios de tênis. Profissionais recebem tarefas e as têm de cumprir, por exigência de clientes e empregadores.

O universo de beneficiados pelo investimento, incluindo-se aí, necessariamente, os veículos de comunicação, costuma encarar essas coisas com naturalidade, até porque, em tese, não parece ser nada tão grave. Talvez não seja.

Mas é preciso nos permitirmos um exercício de reflexão, para não perdermos completamente a sensibilidade diante dos fatos, em nome do faturamento.

Países se notabilizam em diversas áreas, do conhecimento, das artes e dos esportes. E isso precisa ser compreendido, admirado e respeitado. E jamais ser colocado em oposição àquilo que queremos impor.

Imaginemos essa campanha no Quênia ou na Etiópia. No comercial, alguém interrompe uma brincadeira de crianças, simulando uma maratona, com a intenção de sugerir que passem a frequentar uma academia de tênis, sob o patrocínio da Renault.

Pior: sob a justificativa de que se estará dando uma “oportunidade” melhor para elas. O Brasil teve tenistas que fizeram história. Quer estímulo maior do que este?

Mas o tênis, por suas características, não se tornou um esporte popular. E não terá sido porque não apareceram alguns mecenas para bancar escolinhas de tênis pelos subúrbios. Esporte é cultural.

O exemplo de Cuba é emblemático. O sistema comunista de Fidel Castro conseguiu varrer o capitalismo do país, mas foi obrigado a ceder ao beisebol.

Estive lá e sou testemunha: os cubanos são absolutamente fanáticos por beisebol. Curiosamente, acontece a mesma coisa na Venezuela.

Apesar de todo o esforço das confederações, lá, estão à frente do futebol, em popularidade, o beisebol, o boxe e o basquete.

Voltando ao caso brasileiro, não aposto um tostão furado que a campanha da Renault para despertar o interesse pelo tênis nas periferias traga algum resultado importante. Isso, falando apenas em questões objetivas, que envolvem números.

Sob a perspectiva de alguma conquista institucional para a marca, acho negativa. Se a ideia, em sua origem, já não parecia boa, o tratamento que foi dado a ela me pareceu extremamente inadequado e antipático.

Se eu estivesse à beira de um campinho, vendo crianças jogando futebol, e chegasse alguém com raquetes de tênis, e interrompesse a pelada para propor que parassem a partida para jogar tênis, confesso que daria uma bela bronca nos invasores. Ah, vão catar bolinhas!

Stalimir Vieira é diretor da Base de Marketing
stalimircom@gmail.com